sábado, janeiro 31, 2004 Margarida Lozano 0 Comments

A última mensagem dos pais de Miklos Fehér

"Não sei se é possível podermos falar de uma dor causada pela morte de um filho. É muito difícil. É uma tarefa muito difícil. Para mim sinto-me muito honrada em poder transmitir-vos os sentimentos e pensamentos de uma mãe que acabou de perder um filho. Os familiares não têm força para fazer esta tarefa. Vou falar-vos um pouco sobre o Miklos (...)

(...) O que é uma família? O Pai, a Mãe e a tua noiva que amaste tanto. Não estamos aqui para te dizer adeus, mas sim para falarmos um pouco contigo.

Esta pequena família.

A mãe vai contar-te uma história. Vamos lembrar os momentos mais felizes que tivemos.

Não tenho como dizer-te o quanto te amei desde o momento em que nasceste.

Tu eras uma criança muito querida, muito simpática.

Tu gostaste muito de jogar. Lembras-te? Como tu gostavas de jogar futebol. Lembras-te quando tu eras pequeno?

Gostaste tanto de jogar com o teu Pai, junto ao lago e depois com os teus amigos. Lembras-te?

Gostaste tanto de jogar futebol.

Lembras-te quando sonhavas em ser um grande jogador de futebol, conhecido em todo o mundo?

Quando tinhas 10 anos, disseste isso mesmo a um jornalista. Lembras-te?

Quando tu recebeste uma camisola do Roberto. Como tu estavas contente. Corrias à volta da nossa casa com a camisola vestida.

Com certeza nós estávamos sempre ao teu lado, porque te criámos como todos os pais: queríamos que fosses muito feliz.

Assistimos ao teu sucesso no Gyori Eto. Lembras-te quando estavas sentado na cozinha com o teu Pai e falavam sobre um jogo de futebol? Aceitaste todos os conselhos do teu Pai. Eu e a tua irmã estávamos a ouvir essa conversa com muita atenção.

Nos outros lados da vida, sempre tiveste em atenção os conselhos da tua mãe. Sempre tentei ensinar-te as coisas boas da vida, ser honesto, ser feliz, ser uma pessoa querida. Estou tão contente por seres meu filho.

Sabes, sempre dissemos que a família era a primeira coisa na vida e tu foste sempre o primeiro nisso.

Tu adoraste as nossas excursões. Tu adoraste os bolos da tua mãe. Tu adoraste as conversas com a tua irmã. Tu adoraste os nossos Natais, passados com a família. Tu adoraste jogar às cartas com a tua família.

Como tu estavas tão contente com a tua irmã. Como tu disseste que ela estava tão bonita e tão inteligente. Ela, ela adorou-te.

Além da família, para ti, o futebol era a coisa mais importante.

Quando conseguiste concretizar o teu sonho. Lembras-te? Lembras-te desse dia, meu filho? Quando nós estávamos a preparar a tua viagem para Portugal, como um craque.

Nós estávamos com muito medo e cheios de ansiedade com o que podia acontecer-te num país estrangeiro.

Estávamos a ouvir uma canção, a pensar numa canção. Eu vou cantar essa canção para ti. De certeza que vais ouvir esta canção também.

Um dos nossos olhos está a chorar, mas o outro está a sorrir. O nosso coração está a doer.

Nós sabíamos que estavas num sítio bom, mas nós estávamos sempre preocupados contigo. Toda a família tentou visitar-te muitas vezes, para te levar um bocadinho da Hungria.

Tu, mesmo no estrangeiro, fizeste um excelente trabalho. As pessoas começaram a conhecer-te e a gostar de ti.

Anos de sucesso se sucederam, mas tu nunca esqueceste de onde viste.

Disseste-me: “Mãe, nunca vou esquecer que comecei aqui em Tantabanya, ao pé do lago. Agora estou a jogar com futebolistas que antes só via na televisão”.

Gostavas tanto do futebol e deste a tua vida pelo futebol.

A tua vida começou a ter muita felicidade. Conheceste a tua noiva. Parecia que Deus vos criou um para o outro.

Estavam a planear o vosso futuro em conjunto. Nós, a família, estávamos tão contentes por ver o vosso amor.

Agora estávamos a planear o vosso casamento. Lembras-te meu filho?

E agora? Agora está aqui a ansiedade. A dor.

Infelizmente, agora, a música não ajuda. Vou contar-te histórias para sempre meu filho. Vais ficar sempre nos nossos corações, meu filho."





























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